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Algumas características da Santidade no mundo atual - Papa Francisco

Suportação, paciência e mansidão


112. A primeira destas grandes caraterísticas é permanecer centrado, firme em Deus que ama e sustenta. A partir desta firmeza interior, é possível aguentar, suportar as contrariedades, as vicissitudes da vida e também as agressões dos outros, as suas infidelidades e defeitos: «se Deus está por nós, quem pode estar contra nós?» (Rm 8, 31). Nisto está a fonte da paz que se expressa nas atitudes dum santo (…).


116. (…) O santo não gasta as suas energias a lamentar-se dos erros alheios, é capaz de guardar silêncio sobre os defeitos dos seus irmãos e evita a violência verbal que destrói e maltrata, porque não se julga digno de ser duro com os outros, mas considera-os superiores a si próprio (cf. Flp 2, 3).


118. A humildade só se pode enraizar no coração através das humilhações. Sem elas, não há humildade nem santidade. Se não fores capaz de suportar e oferecer a Deus algumas humilhações, não és humilde nem estás no caminho da santidade. A santidade que Deus dá à sua Igreja, vem através da humilhação do seu Filho: este é o caminho. A humilhação faz-te semelhante a Jesus, é parte ineludível da imitação de Jesus: «Cristo padeceu por vós, deixando-vos o exemplo, para que sigais os seus passos» (1 Ped 2, 21). Ele, por sua vez, manifesta a humildade do Pai, que Se humilha para caminhar com o seu povo, que suporta as suas infidelidades e murmurações (cf. Ex 34, 6-9; Sab 11, 23 – 12, 2; Lc 6, 36). Por este motivo os Apóstolos, depois da humilhação, estavam «cheios de alegria, por terem sido considerados dignos de sofrer vexames por causa do Nome de Jesus» (At 5, 41).


120. Não digo que a humilhação seja algo de agradável, porque isso seria masoquismo, mas que se trata dum caminho para imitar Jesus e crescer na união com Ele (…).


121. Esta atitude pressupõe um coração pacificado por Cristo, liberto daquela agressividade que brota dum «ego» demasiado grande (…).


Alegria e sentido de humor


122. (…) O santo é capaz de viver com alegria e sentido de humor. Sem perder o realismo, ilumina os outros com um espírito positivo e rico de esperança. Ser cristão é «alegria no Espírito Santo» (Rm 14, 17) … Se deixarmos que o Senhor nos arranque da nossa concha e mude a nossa vida, então poderemos realizar o que pedia São Paulo: «Alegrai-vos sempre no Senhor! De novo o digo: alegrai-vos!» (Flp 4, 4).


125. Existem momentos difíceis, tempos de cruz, mas nada pode destruir a alegria sobrenatural, que «se adapta e transforma, mas sempre permanece pelo menos como um feixe de luz que nasce da certeza pessoal de, não obstante o contrário, sermos infinitamente amados». É uma segurança interior, uma serenidade cheia de esperança que proporciona uma satisfação espiritual incompreensível à luz dos critérios mundanos.


126. Normalmente a alegria cristã é acompanhada pelo sentido do humor, tão saliente, por exemplo, em São Tomás Moro, São Vicente de Paulo, ou São Filipe Néri. O mau humor não é um sinal de santidade: «lança fora do teu coração a tristeza» (Qo 11, 10). É tanto o que recebemos do Senhor «para nosso usufruto» (1 Tm 6, 17), que às vezes a tristeza tem a ver com a ingratidão, com estar tão fechados em nós mesmos que nos tornamos incapazes de reconhecer os dons de Deus.


127. (…) Isto mesmo vivia São Francisco de Assis, capaz de se comover de gratidão perante um pedaço de pão duro, ou de louvar, feliz, a Deus só pela brisa que acariciava o seu rosto.


128. Não estou a falar da alegria consumista e individualista muito presente nalgumas experiências culturais de hoje. Com efeito, o consumismo só atravanca o coração; pode proporcionar prazeres ocasionais e passageiros, mas não alegria. Refiro-me, antes, àquela alegria que se vive em comunhão, que se partilha e comunica, porque «a felicidade está mais em dar do que em receber» (At 20, 35) e «Deus ama quem dá com alegria» (2 Cor 9, 7). O amor fraterno multiplica a nossa capacidade de alegria, porque nos torna capazes de rejubilar com o bem dos outros: «alegrai-vos com os que se alegram» (Rm 12, 15). «Alegramo-nos quando somos fracos e vós sois fortes» (2 Cor 13, 9). Ao contrário, «concentrando-nos sobretudo nas nossas próprias necessidades, condenamo-nos a viver com pouca alegria».


(Papa Francisco, Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate, nn. 110-128)

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